Nova onda do gênero quer pegar carona no sucesso de filmes
de ação, com ênfase nos efeitos especiais
Noé, Moisés, Caim, Golias e Virgem Maria são alguns dos
personagens bíblicos que devem chegar aos cinemas a partir dos próximos meses,
parte da mais forte onda de filmes religiosos em Hollywood desde a década de
1950.
Com grandes orçamentos, diretores consagrados e astros no
elenco, a nova safra de filmes bíblicos espera pegar carona no sucesso dos
blockbusters de ação e aventura, com ênfase nos efeitos especiais.
O primeiro a chegar aos cinemas brasileiros, em abril de
2014, será "Noé", de Darren Aronofsky ("Cisne Negro").
Estrelado por Russel Crowe, o longa tem orçamento de US$ 125 milhões (R$ 295
milhões), usado em parte para a construção de uma arca de madeira de 45 metros.
Outros projetos em andamento incluem "Exodus", de
Ridley Scott, no qual Christian Bale interpreta Moisés; "Gods and
Kings", sobre o mesmo personagem, que foi considerado por Steven
Spielberg, mas deve ficar com Ang Lee; "The Redemption of Caim",
baseado na história de Caim e Abel e provável estreia de Will Smith na direção;
e "Mary, Mother of God", sobre a Virgem Maria, com Ben Kingsley.
Além disso, Scott Derrickson pretende levar a trajetória de
Golias ao cinema, Brad Pitt demonstrou interesse em estrelar a cinebiografia de
Pôncio Pilatos e Mel Gibson, diretor de "A Paixão de Cristo" (2004),
último grande sucesso do gênero, trabalha em um filme sobre Judas Macabeu.
O sucesso da série "The Bible"
Uma série de fatores explica o boom de filmes bíblicos, a
começar pelo sucesso da série "The Bible", exibida pelo canal History
Channel em março. Com dramatização de passagens da Bíblia, o programa alcançou
13 milhões de espectadores no primeiro episódio, a maior audiência da TV a cabo
dos EUA neste ano.
Os filmes bíblicos também se encaixam na tendência
hollywoodiana de adaptar para o cinema um material que já tenha base sólida de
"fãs", na tentativa de garantir retorno de bilheteria. Outra vantagem
financeira é que usar a Bíblia como fonte não requer pagamento de direitos
autorais.
Há, ainda, a sensação de que o caráter épico das histórias
religiosas, marcadas por batalhas e fenômenos naturais, permite o uso maciço de
efeitos especiais e 3D. Nesse sentido, os filmes bíblicos poderiam competir com
os de super-heróis, atual obsessão de Hollywood e que vêm dando sinais de
desgaste.
Religião e ação
"Sem dúvida há um mercado para esse tipo de filme, que
se for vendido como uma produção de ação e aventura, certamente poderá atrair
públicos bem diferentes, como aconteceu com 'A Paixão de Cristo'".
Com duas estratégias de marketing - filme religioso, mas
também longa de ação de um astro do gênero -, o longa de Mel Gibson alcançou o
público não-cristão e arrecadou mais de US$ 600 milhões (R$ 1,4 bilhão) pelo
mundo.
O longa também conseguiu extrapolar o mercado doméstico,
chegando inclusive aos cinemas de países muçulmanos - apesar de críticas às
cenas excessivamente violentas e às acusações de antissemitismo.
Conforme aumenta a dependência de Hollywood em relação ao
mercado internacional , esta questão se torna fundamental para os novos filmes
bíblicos: agradar a um público heterogêneo ao falar de um tema que não costuma
provocar consenso.
A China, sobretudo, pode ser difícil de conquistar, já que
filmes que contenham nudez, sexo, violência, superstições, fantasmas e questões
religiosas, além de críticas às políticas do Partido Comunista, estão sujeitos
a cortes.
Para Block, é improvável que filmes abertamente religiosos
consigam entrar no mercado chinês. "Não haverá corte suficiente para tirar
todos os elementos que forem considerados ofensivos pelo governo",
afirmou. "Mas muitas partes da Ásia, e especialmente a América do Sul,
terão um papel importante para que esses filmes se classifiquem como
megablockbusters."
O mercado brasileiro
Nesse sentido, o Brasil pode ser um dos países-chave das
ações de marketing dos filmes bíblicos, na posição de maior nação católica do
mundo, com 123,2 milhões de fiéis. Nos EUA, pesquisa da Gallup do ano passado
mostrou que 70% dos norte-americanos se identificam como cristãos ou
protestantes.
"Não há garantias, mas acredito que o público
internacional estará muito receptivo a esses filmes, especialmente se forem
apresentados em 3D e IMAX", disse Block. "Tudo é cíclico em Hollywood
e o timing parece perfeito para a volta de um salvador cinematográfico."
Ascensão e queda
Filmes bíblicos foram responsáveis por grandes blockbusters
na história de Hollywood, especialmente na década de 1950. O diretor Cecil B.
DeMille é o principal nome do gênero, tendo no currículo "Sansão e
Dalila" (1949), "Os Dez Mandamentos" (1956) e
"Ben-Hur" (1959), todos sucessos de bilheteria - o último ganhou 11
Oscar, marca só atingida por "Titanic" e o segundo longa da franquia
"O Senhor dos Anéis".
A fórmula começou a
se desgastar na década de 1960, com o fracasso de "A Maior História de
Todos os Tempos", de George Stevens, e "O Rei dos Reis", de
Nicolas Ray, detonado pelos críticos.
A favor dos filmes religiosos há iniciativas como a
Movieguide, revista criada no final dos anos 1980 e que agora funciona como
site. Associado à Comissão Cristã de Cinema e Televisão, o Movieguide avalia o
conteúdo dos filmes lançados nos EUA e produz um relatório anual de análise de
bilheteria, com o qual busca convencer os estúdios de que longas familiares e
positivos fazem mais sucesso do que os com violência, nudez, sexo e mensagens
anticristãs.
No relatório mais recente, relativo a 2012, há críticas à
violência e sexualidade de filmes como "Django Livre" e
"Ted" , e elogios à redenção mostrada em "Os Miseráveis" e
ao patriotismo de "Os Vingadores" (no site, "A Paixão de
Cristo" é descrito como "obra-prima").
"Encorajamos Hollywood a fazer esses filmes e mostramos
que eles dão dinheiro aqui e no mundo", afirmou Ted Baehr, presidente da
comissão e editor-chefe do Movieguide. "As pessoas olham muito para o
gênero, mas é o coração de um filme que o faz interessante."
Para Baehr, o novo boom de produções bíblicas é garantia de
sucesso. "Sempre há estes ciclos de ouro, porque uma nova geração chega e
os filmes são reapresentados", afirmou. "E quanto mais maduro você
fica, mais quer ter esperança."
Fonte: Ultimo Segundo IG
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